O Governo de Minas Gerais, por meio da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), investiu na realização do Projeto Circuito das Águas, na Território Sul do estado. Os estudos, que duraram 11 meses e foram apresentados à Codemge neste mês de dezembro, permitiram atualizar e aprofundar os conhecimentos técnico-científicos sobre áreas de fontes hidrominerais na Bacia do Rio Verde, abrangendo as estâncias de Caxambu, Cambuquira, Marimbeiro, Conceição do Rio Verde e Lambari.
Viabilizada mediante contrato com a Fundep, a ação recebeu investimento em torno de R$ 2 milhões. Os resultados trazem uma nova compreensão da origem e dos fatores influenciadores das águas minerais na região.
“Foi, na verdade, uma verdadeira revolução no entendimento da origem e da circulação das águas minerais do Circuito das Águas”, salienta o coordenador geral da pesquisa, Antônio Carlos Pedrosa Soares, da UFMG. Ele também destaca o caráter inovador do estudo: “Trata-se de um projeto que estuda as águas minerais dessa região com métodos robustos e detalhamento de campo. Ou seja, uma verdadeira quebra de paradigma, no entendimento da Codemge, pois, com os resultados e conclusões do projeto, a Empresa agora pode colocar a público um grande acervo de informações transformadoras do modelo hidrogeológico que vinha sendo adotado para a região.”
Além de aprofundar o conhecimento sobre o funcionamento hídrico dessas áreas hidrominerais de interesse público, a iniciativa vem subsidiar o ordenamento técnico-normativo de sua gestão e conservação hidroambiental, em curto, médio e longo prazos, diante da atual ocupação urbana e fatores potenciais de contaminação das águas minerais (fontes, poços), entre outros aspectos com potencial influência para sua caracterização como recurso natural e bem socioeconômico. A pesquisa realizada traz enorme avanço qualitativo e quantitativo do conhecimento sobre as águas minerais, parques e sub-bacias.
O desenvolvimento do Projeto Circuito das Águas se deu mediante a condução sistemática de investigações geológicas, geofísicas, hidrogeológicas, hidroquímicas e isotópicas, especificamente focadas nas águas minerais e seus gases, associadas aos estudos ambientais, socioeconômicos, e do uso e ocupação da terra, dentre outros. O contrato para a realização do estudo foi assinado em dezembro de 2017, com vigência de 15 meses, até março de 2019. Iniciado em janeiro de 2018, o projeto realizou diversas etapas de coleta de dados em campo, sem quaisquer danos ou prejuízos às propriedades e a seus ocupantes, e foi recentemente concluído com êxito.
A equipe técnico-científica principal do projeto foi constituída por 35 integrantes, entre pesquisadores e técnicos, vinculados à UFMG, à Fundep e a outras instituições, como a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Observatório Nacional do Rio de Janeiro (ON). Trata-se de uma equipe multidisciplinar altamente qualificada, numerosa, multi-institucional e que inclui especialistas renomados nacional e internacionalmente.
As análises de águas, gases e rochas, que sustentam as descobertas do projeto, bem como o processo de amostragem em campo e outros procedimentos especializados, foram realizados pelos laboratórios do Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas – USP, Centro de Pesquisas Geocronológicas – USP, Laboratório de Geocronologia da UnB, Centro de Energia Nuclear na Agricultura – USP, SGS-Geosol, Isodetect (Leipzig, Alemanha) e Beta Analytic (Miami, EUA), segundo termos de referência e procedimentos internacionalmente certificados.
O trabalho culminou na entrega do Sistema de Informações Geoambientais do Circuito das Águas (SIGA), contendo o relatório final em forma de livro (SIGA – Circuito das Águas) com cerca de 480 páginas de texto e ilustrações, além de mais de 500 páginas de anexos, incluindo mapas, tabelas e laudos laboratoriais.
DESCOBERTAS, CONCLUSÕES E QUEBRA DE PARADIGMA
A pesquisa traz importantes descobertas e conclusões sobre as águas minerais. Antes, havia a ideia de que se trataria de águas novas ligadas a processos intrabacinais, restritos às sub-bacias dos cursos d’água que contêm os parques. Agora, porém, a pesquisa demonstra que as águas minerais da região são águas de chuvas antigas (conforme normatização da Agência Internacional de Energia Atômica – IAEA, Viena, que define como antigas as águas com idade maior que 1.000 anos). Elas representam águas meteóricas (águas de chuvas) pretéritas que se infiltraram profundamente no subsolo, pelas zonas permeáveis do substrato rochoso da região, segundo fluxos de circulação com até mais de 5 mil metros de profundidade.
Além disso, os gases extraídos dessas águas minerais são tão antigos quanto as próprias águas que os contêm, chegando a idades superiores a 30 mil anos. As áreas de captação das águas minerais do Circuito ultrapassam os limites das sub-bacias que contêm os parques hidrominerais e podem ir além dos limites da Bacia do Rio Verde.
Em condições naturais normais e sem interferências humanas, as águas minerais tendem a permanecer livres de misturas com águas rasas e superficiais, ou seja, mantêm suas características preservadas e sem contaminação. Uma interpretação decorrente dos dados sugere que as águas minerais do Circuito tiveram origem bem longe de lá, provavelmente na Serra da Mantiqueira. Comparativamente, pode-se dizer que elas são mais antigas que Luzia, a mulher paleolítica que viveu em Minas Gerais em torno de 11 mil anos atrás.
No caso de Caxambu, observou-se que as águas do Parque têm assinatura das rochas alcalinas, destacando-se o Morro do Caxambu, sendo mais salinizadas, padronizadas e diferenciadas. Essa é uma assinatura particular, em relação às demais áreas pesquisadas, porque, próximo ao fim de seu longo trânsito subterrâneo, essas águas circulam na parte profunda de um edifício vulcânico alcalino, do qual herdam características químicas. Esse edifício vulcânico está hoje parcialmente exposto no Morro do Caxambu. Nos demais parques, as águas têm assinaturas das rochas regionais e, mesmo sendo diversificadas, são geralmente menos salinizadas.
Estas conclusões representam uma quebra de paradigma e ampliam a perspectiva, já que os dados indicam que as águas minerais são originadas além das sub-bacias dos parques, e seus gases nada têm a ver com as turfeiras (tipo de depósito raso feito de turfa, material com elevada acumulação de matéria orgânica resultante da deposição de restos vegetais) ali presentes.
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
A origem distante das águas minerais reforça ainda mais as responsabilidades ambientais da população local. Embora a comunidade não tenha controle direto sobre a origem das águas minerais encontradas no Circuito, tem papel fundamental na efetividade da educação ambiental para preservação desse bem natural e dos locais de captação das fontes, bem como das áreas dos parques e de seus entornos. Cabe a todos os cidadãos zelar pela qualidade da água que sai das fontes e pelo meio ambiente, evitando contaminação, combatendo a poluição e o uso inadequado das águas, dentre outros cuidados.
ATUALIZAÇÃO E APROFUNDAMENTO
O projeto foi executado em consonância com estudo anterior, publicado em 1999, denominado Projeto Circuito das Águas do Estado de Minas Gerais, disponível no site da Companhia. A pesquisa de quase duas décadas atrás foi elaborada com base em convênio entre o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e a Companhia Mineradora de Minas Gerais (Comig), atual Codemge.
Desde então, foi marcante o avanço do conhecimento geológico sobre a região, que, atualmente, se encontra completamente coberta com mapeamento geológico e levantamentos aerogeofísicos realizados sob as bases do conhecimento técnico-científico dos anos 2000. Contudo, o projeto avançou ainda mais nesse conhecimento, pois realizou, com base em grande número de informações coletadas em campo, os mapeamentos geológico e hidrogeológico das áreas que contêm os parques hidrominerais e suas sub-bacias. Além disso, apresenta os primeiros levantamentos de geofísica terrestre que permitem identificar as zonas profundas e rasas de circulação de águas subterrâneas.
Por isso, com o novo projeto de 2018, as informações foram atualizadas e expandidas, considerando o avanço dos métodos analíticos capazes de gerar dados de grande precisão e alto poder interpretativo, em particular nas áreas da hidroquímica e dos estudos isotópicos de águas e gases. Este grande acervo de dados robustos é, agora, definitivamente incorporado ao conhecimento sobre as águas minerais do Circuito. Além disso, os estudos geoambientais observaram a legislação ambiental vigente e as demandas contidas no Plano Diretor da Bacia do Rio Verde.
Além de aprofundar o conhecimento sobre áreas hidrominerais de interesse público, a iniciativa vem subsidiar o ordenamento técnico-normativo de sua gestão e conservação hidroambiental, em curto, médio e longo prazos, diante da atual ocupação urbana e fatores potenciais de contaminação das águas subterrâneas captadas em fontes e poços, entre outros aspectos que influem na sua caracterização como recurso natural e bem socioeconômico.
A FUNDEP
O Projeto Circuito das Águas é administrado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) e realizado por pesquisadores vinculados à UFMG, à UFOP, à UERJ, à USP, à Unesp e ao Observatório Nacional do Rio de Janeiro. A Fundep é uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, com autonomia administrativa e financeira.
Sua atuação abarca atividades de execução e gerenciamento de projetos de pesquisa em parceria e cooperação com organismos públicos e privados, visando à produção, promoção e divulgação do conhecimento técnico-científico. Para tanto, congrega equipes especializadas em áreas diversas do conhecimento, incluindo geologia e recursos naturais do território, além de seus desdobramentos socioeconômicos. A entidade já desenvolveu mais de 20 mil projetos e atividades. É um órgão de apoio a pesquisas realizadas pela UFMG e outras instituições parceiras.
A Fundep tem sido parceira do Estado de Minas Gerais na execução do mapeamento geológico e levantamento de recursos minerais do território estadual. Junto com a Equipe de Geologia e Recursos Naturais da UFMG, participou da execução dos projetos Espinhaço, Sul de Minas, Alto Paranaíba, Norte de Minas, Fronteiras de Minas Gerais e Triângulo Mineiro, os quais produziram a cobertura cartográfica na escala 1:100.000 de 350.000 km² ou 60% do território mineiro, acompanhados de documentos explicativos com informações e bancos de dados em plataforma SIG, disponíveis no Portal da Geologia da Codemge. Também realizou o projeto Recursos Minerais de Minas Gerais On Line, contratado pela Codemge para promover a ampla divulgação do conhecimento sobre esses bens, incluindo as águas minerais do Estado.
A CODEMGE
Oriunda da Codemig, a Codemge é uma empresa pública que atua em consonância com as diretrizes do Governo estadual a pauta suas ações, de forma arrojada e moderna, em três grandes eixos estratégicos: Mineração, Energia e Infraestrutura; Indústria Criativa; e Indústria de Alta Tecnologia. A Empresa investe em vários segmentos, como levantamento geológico e geofísico, águas minerais, materiais estratégicos e energia, aeroespacial e defesa, biotecnologia, Internet das Coisas, telecomunicações, distritos industriais, turismo de lazer e negócios, moda, gastronomia, audiovisual, música e artes. Sua múltipla atuação está cada vez mais voltada para que riquezas e potencialidades gerem novas oportunidades de investimentos, aumentem a competitividade e propiciem bons negócios para o setor produtivo, beneficiando o estado e os mineiros.
Acesse o livro do projeto, intitulado Siga (Sistema de Informações Geoambientais do Circuito das Águas) – disponível para download no site da Codemg.
Fonte: Codemge